terça-feira, 28 de junho de 2011

De baixo, vai pra cima

Não, ele não morreu! :)
Tenho andado "distraída" com os afazeres domésticos e com os acadêmicos, aí não tive tempo (nem muita paciência) para retomar as ideias daqui. Mil perdões aos leitores assíduos que continuam a visitar a página e a pedir novas postagens.

Mas hoje a minha irmã citou o Linguageiro em um tutorial de maquiagem na página dela lá no Facebook, e isso me fez pensar em por que não escrever agora mesmo, né!? ;)

O ponto que ela comentou foi sobre a palavra "embaixo". Essa palavra me lembra o trio que costuma confundir uma galera relativamente grande na hora de escrever: embaixo / debaixo / de baixo. As três indicam a ideia de lugar, mas as duas primeiras são sinônimas e transmitem uma ideia estática; a terceira, uma ideia de movimento. Como assim?

Embaixo e debaixo indicam que uma coisa está sob outra, isto é, uma está em posição inferior à outra:

O gato está embaixo do guarda-chuva.
O gato está debaixo do guarda-chuva.

A expressão de baixo, apesar de ser muito similar às outras, indica uma ideia de movimento:

Os bons velhinhos vão de baixo para cima nas escadas rolantes.

Essa expressão de baixo indica o movimento de um lugar para outro. Logo, a pessoa se movimenta do lugar inferior para o superior (de baixo para cima).

Aproveito também a oportunidade para lhes dizer que em cima é uma expressão que deve ser grafada separadamente, galera!! EM + CIMA, separadamente! :) Digo isso porque vi, inúmeras vezes, as pessoas grafarem-na da seguinte forma: encima, como se encima fosse o antônimo de embaixo.

Então, para finalizar:

O gato está embaixo / debaixo da mesa.

Agora,
O gato está em cima da mesa.

Por fim,
O gato, em cima da cama, pula de baixo para cima.

Ajudou!? ;)

Observação:
Não tenho predileção pelos gatos, apesar de achá-los fofinhos muitas vezes. As fotos foram escolhidas quase aleatoriamente, mas o critério para a escolha dos gatos foi algo, de fato, sem critério além da demonstração das expressões.

domingo, 5 de junho de 2011

Antes de P e B, só se escreve M

Isso todo mundo aprende ainda pequeno, quando está sendo alfabetizado, mas pouca gente sabe por quê. A explicação é bem simples: p, b e m são consoantes a que chamamos bilabiais, isto é, são consoantes que, para serem proferidas, os lábios precisam-se tocar.

Logo no primeiro período da minha graduação, cursei uma disciplina chamada Linguística I - Fonética e Fonologia. Durante algumas aulas, os alunos ficavam parecendo um bando de loucos articulando consoantes "no ar". :) A questão é que, para a maioria das pessoas, consoantes são bê, cê, dê, efe, gê, etc., ditas dessa forma. O que acontece, na verdade, é que, na faculdade, eu precisava articular apenas as consoantes. Para os leigos, é como se eu "fingisse" fazer o som que faz a consoante, sabe? Finjo que vou dizer "bê" e, antes de pronunciar o "ê", eu me calo. :)

Pra que serve isso?

Quando articulamos as consoantes dessa forma, percebemos suas semelhanças e diferenças quanto à articulação. As semelhanças entre p, b e m, de uma maneira didática, podem ser explícitas da seguinte forma:


Bilabial
Nasal
Vibração das cordas vocais
[p]
+
-
-
[b]
+
-
+
[m]
+
+
+

Mas por que isso interfere na grafia das palavras?
Quem fala inglês entenderá mais facilmente: tomemos como exemplo a palavra comfort (conforto). A pronúncia correta dessa palavra requer a pronúncia do [m], correto? Esse primeiro "o", ao contrário do que a maioria pensa, não tem som de "o", muito  menos de "õ", como supõem muitos falantes do português. Esse primeiro "o" tem um som que fica entre um "ó" (aberto) e um "a" mais fechado, como vocês podem ouvir aqui. Se prestarem bastante atenção a essa pronúncia do Google Tradutor, perceberão que o [m] é, de fato, pronunciado e não nasaliza a vogal anterior a ele.

Assim sendo, na língua inglesa, M pode preceder consoantes que não sejam bilabiais porque será pronunciado como M, não como consoante que apenas nasaliza a vogal anterior. (O mesmo serve para a consoante [n], que, em muitas palavras da língua inglesa, também deve ser articulada e não servirá, na grafia das palavras, como um indicador de nasalidade da vogal.)

Em português, ao contrário, uma consoante [m] (ou [n]) após uma vogal, na mesma sílaba, é sempre para indicar a nasalidade dessa vogal. Em termos de grafia, é o que chamamos de dígrafo, isto é, dois grafemas (letras) para representar um único fonema (som): campo, som, compromisso, canto, menta, conto, etc. O que a ortografia da língua portuguesa tenta, então, é respeitar as regras fonológicas que regem a própria língua, porque essas regras primam pelo menor esforço dos falantes no proferimento dos sons. :)

Viram que nem tudo é tão arbitrário quanto a gente pensa? ;)

Observação:
1 - Quem se interessar mais pelo assunto, pode conferir a página do Centro de Estudos da Fala, Acústica, Linguagem e Música, da UFMG, que traz, de maneira bem didática, uma análise dos sons do português. Lá, é possível ouvir como cada um dos sons da nossa língua são articulados pelo nosso aparelho fonador. Vale a pena! :) 


sábado, 4 de junho de 2011

[(Indicativo) + Subjuntivo] = Imperativo

Desde os meus primeiros dias como moradora de Belo Horizonte, percebi que muuuuitos mineiros têm o hábito de não empregar corretamente o presente do subjuntivo. De início, como não conhecia ainda muitas pessoas com alto nível de escolaridade, fiquei pensando que se tratava apenas do açougueiro que me atendia no mercado.

Quando pedia 1kg de carne, ele perguntava: "Quer que corta, senhora?" Quando queria bife, dizia que sim.
Noutras vezes, outro açougueiro me perguntava: "Quer que corto, senhora?" E minhas respostas dependiam sempre do que eu queria com as carnes.

Quando conheci outras pessoas, algumas com altississississíssimo grau de escolaridade, entendi que esse não é um hábito só do pessoal de baixa escolaridade. :) O mineiro, de uma maneira geral, faz essa confusão na oralidade.

Então isso me lembrou uma outra questão bem comum, desta vez a váááááááááários brasileiros: a construção inadequada do modo imperativo.

Sempre pensei na construção do modo imperativo como uma equação matemática. Lembram a ordem na resolução de uma equação?

{(32 + 45 - 12) - [3 (6 : 2)] + 16} + 4 = ???

Primeiro, resolvemos o que está entre (parênteses):

{(65) - [3 (3)] + 16} + 4 = ???

Depois, o que está entre os [colchetes]:

{(65) - [9] + 16} + 4 = ???

Depois, o que estiver entre as {chaves}:

{72} + 4 = ???

No final, para sorrirmos aliviados, é só resolver o que sobrou:

   72 + 4 = 76   

E foi assim que eu sempre vi a construção do modo imperativo! :)

Primeiro, resolvemos o presente do indicativo, esse que a maioria conhece e classifica como presente: (Escolhi um verbo regular de cada uma das 3 conjugações, só para facilitar o raciocínio)

Assimilar
Comer
Assumir
Assimilo
Como
Assumo
Assimilas
Comes
Assumes
Assimila
Come
Assume
Assimilamos
Comemos
Assumimos
Assimilais
Comeis
Assumis
Assimilam
Comem
Assumem

Depois de resolvido o presente do indicativo, está na hora de resolver o presente do subjuntivo, que é basicamente assim:
  • como a primeira conjugação verbal termina em AR, trocaremos as vogais temáticas "a" por "e";
  • como a segunda conjugação verbal termina em ER, trocaremos as vogais temáticas "e" por "a";
  • como a terceira conjugação verbal termina em IR, trocaremos as vogais temáticas "i" por "a".
Assimilar
Comer
Assumir
Assimile
Coma
Assuma
Assimiles
Comas
Assumas
Assimile
Coma
Assuma
Assimilemos
Comamos
Assumamos
Assimileis
Comais
Assumais
Assimilem
Comam
Assumam

Descoberto isso, podemos entender o processo da seguinte forma:

(Assimilar)
[Assimilar]
(Comer)
[Comer]
(Assumir)
[Assumir]
Assimilo
Assimile
Como
Coma
Assumo
Assuma
Assimilas
Assimiles
Comes
Comas
Assumes
Assumas
Assimila
Assimile
Come
Coma
Assume
Assuma
Assimilamos
Assimilemos
Comemos
Comamos
Assumimos
Assumamos
Assimilais
Assimileis
Comeis
Comais
Assumis
Assumais
Assimilam
Assimilem
Comem
Comam
Assumem
Assumam

O presente do indicativo representa, para mim, os parênteses das expressões numéricas, assim como o  presente do subjuntivo, os colchetes.

Depois disso, passamos para as {chaves}, que serão o modo imperativo afirmativo. As chaves, é bom lembrar, só poderão estar corretas, obviamente, se os parênteses e os colchetes tiverem sido devidamente resolvidos. E como resolvemos, então? Bem simples:
  • antes de tudo, não existe modo imperativo para a primeira pessoa do singular. Por quê? Porque eu não posso me dar uma ordem, nem um conselho, nem me fazer um pedido. E, antes que algum esperto queira vir dizer "mas eu posso falar sozinho, não posso? E falar comigo mesmo?". Pode, meu lindinho, mas, no momento em que você fala sozinho, esse seu "eu" se duplica e continuará havendo duas pessoas nesse discurso: o seu eu que fala e o seu eu "que ouve". Logo, o seu verbo no imperativo não é, de fato, para si, mas para esse seu "eu duplicado". Ok?
  • depois, vem a parte prática: tanto a 2ª pessoa do singular (tu) quanto a do plural (vós) derivam do presente do indicativo, cortando-se apenas o "s" do final da flexão verbal:



(Assimilar)
{Imperativo Afirmativo}
(Comer)
{Imperativo Afirmativo}
(Assumir)
{Imperativo Afirmativo}
Assimilo
----
Como
----
Assumo
----
Assimilas
Assimila (tu)
Comes
Come (tu)
Assumes
Assume (tu)
Assimila
Come
Assume
Assimilamos
Comemos
Assumimos
Assimilais
Assimilai (vós)
Comeis
Comei (vós)
Assumis
Assumi (vós)
Assimilam
Comem
Assumem

Coloquei os pronomes entre parênteses porque, normalmente, eles não vêm explícitos com os verbos no modo imperativo. Por isso, em frases como "Fulano, come logo esse almoço!", o sujeito não Fulano, porque Fulano é o vocativo. O sujeito do verbo "comer" está oculto e podemos descobri-lo pela flexão verbal: por se tratar do modo imperativo e por estar flexionado na 2ª pessoa do singular (vide tabela acima), o sujeito é oculto TU.

Tudo bem até agora?
Prossigamos, então.

Resolvidas as segundas pessoas, as outras são a maior mamata:
  • as terceiras pessoas e a primeira pessoa do plural vêm diretamente do presente do subjuntivo, sem tirar nem pôr: (lembrando que o presente do subjuntivo, nesse raciocínio que estou expondo é representado pelos colchetes, ok?)
[Assimilar]
{Imperativo Afirmativo}
[Comer]
{Imperativo Afirmativo}
[Assumir]
{Imperativo Afirmativo}
Assimile
----
Coma
----
Assuma
----
Assimiles
Não assimiles (tu)
Comas
Não comas
(tu)
Assumas
Não assumas (tu)
Assimile
Não assimile (você)
Coma
Não coma (você)
Assuma
Não assuma (você)
Assimilemos
Não assimilemos (nós)
Comamos
Não comamos (nós)
Assumamos
Não assumamos (nós)
Assimileis
Não assimileis (vós)
Comais
Não comais (vós)
Assumais
Não assumais (vós)
Assimilem
Não assimilem (vocês)
Comam
Não comam (vocês)
Assumam
Não assumam (vocês)

Assim, acabaram os parênteses, os colchetes e as chaves, mas e o imperativo negativo? Ora, ora! O imperativo negativo é exatamente a parte mais fácil de todas da expressão numérica, porque é justamente o que sobra, depois de tudo resolvido. Como fica?
  • É só repetir todo o presente do subjuntivo + não:
[Assimilar]
{Imperativo Afirmativo}
[Comer]
{Imperativo Afirmativo}
[Assumir]
{Imperativo Afirmativo}
Assimile
----
Coma
----
Assuma
----
Assimiles
Não assimiles (tu)
Comas
Não comas
(tu)
Assumas
Não assumas (tu)
Assimile
Não assimile (você)
Coma
Não coma (você)
Assuma
Não assuma (você)
Assimilemos
Não assimilemos (nós)
Comamos
Não comamos (nós)
Assumamos
Não assumamos (nós)
Assimileis
Não assimileis (vós)
Comais
Não comais (vós)
Assumais
Não assumais (vós)
Assimilem
Não assimilem (vocês)
Comam
Não comam (vocês)
Assumam
Não assumam (vocês)

E, para finalizar, alguém pode-se perguntar por que, no modo imperativo, a 3ª pessoa é "você(s)" e eu peço que relembrem o que falei na postagem sobre as pessoas do discurso, no que diz respeito aos pronomes de tratamento, à sua equivalência às segundas pessoas do discurso e a sua concordância com a 3ª pessoa. :)

Beleza? :)

Aí eu aproveito a oportunidade para divulgar um sorteio que a minha irmã está realizando para a mulherada, pelo Facebook, porque ela pede que as pessoas divulguem uma frase que peca nessa concordância do verbo no modo imperativo. (Foi mal, sis, mas eu precisava de um exemplo prático.)

Na página dela no Facebook (http://www.facebook.com/CFazmakeup), ela avisa que, para participarem do sorteio, as pessoas precisam curtir a página e, depois, se quiserem chances extras, devem divulgar a seguinte frase via Twitter e/ou Facebook:
CFazmakeup? Então curte /CFazmakeup no FACEBOOK e concorra a um kit de produtos para maquiagem dos olhos! http://migre.me/4FkM8
Como o nome da página dela brinca com as iniciais do seu próprio nome (CF) e com a ideia do "Cê Faz makeup?", suponho que ela trata o seu interlocutor por você. Assim sendo, todo verbo que se dirigir a esse interlocutor deverá concordar com a 3ª pessoa do singular. Como deveria ser, então, a frase para participar do sorteio? ;)
CFazmakeup? Então curta /CFazmakeup no FACEBOOK e concorra a um kit de produtos para maquiagem dos olhos! http://migre.me/4FkM8
Mas isso é uma bobagem, porque não interfere nas regras do sorteio, ok? :)

Diferente de um outro sorteio em que uma menina, em seu canal do Youtube, pedia que as pessoas criassem uma frase criativa sobre o canal. Eu, toda empolgada, criei uma frase, literalmente, considerando o conceito de UMA e de FRASE. No fim das contas, a menina escolheu 12 finalistas, entre as quais estavam umas 9 participações com "um mói de frase"! O_o Até gosto de polêmica, mas resolvi não questionar o resultado, porque soaria meio arrogante da minha parte dizer que, por exemplo, "Novo vício cria uma legião de dependentes. Numa mistura de amor, necessidade, prazer e bem-estar, víciofeminino torna-se um hábito repetitivo entre as mulheres. Sua consequência é arrasadora: elas arrasam na maquiagem e transbordam em autoestima! A OMS adverte: viciofeminino, uma vez instalado e disseminado, impossível combatê-lo", não é UMA frase. :P