sexta-feira, 27 de maio de 2011

Glossário

Hoje estou sem muito tempo para escrever sobre as coisas, mas, para não ficar sem postagem, resolvi fazer um pequeno glossário com algumas palavras que vejo e ouço por aí, ditas e grafadas de maneira equivocada. Em vermelho, colocarei a grafia e/ou "pronúncia" equivocada; em verde, a dicionarizada. :)

DEGLADIAR - DIGLADIAR
EMBREAGAR - EMBRIAGAR (consequentemente: embreagado - embriagado
ESCULTAR - ESCUTAR
ANCIOSO - ANSIOSO
IORGUTE - IOGURTE
EXCESSÃO - EXCEÇÃO
CABELEREIRO - CABELEIREIRO (porque deriva de CABELEIRA, não de cabelo)
QUIZ - QUIS (os verbos querer e pôr, assim como seus derivados, serão sempre grafados com s, jamais com "z". Por isso, corretas estão as formas quiser, quis, puser, pus, antepus, sobrepuser, etc. / Quiz, com Z, é o questionário e não é uma palavra da língua portuguesa.)
CONHECIDÊNCIA - COINCIDÊNCIA (porque não tem a ver com "conhecer", mas com co + incidir)

Que outras palavras vocês destacariam? :)

Observação: galera, vocês podem, por favor, responder a enquete à esquerda? Só para eu ter um feedback. ;)

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Ao invés de x Em vez de

Priscila, leitora assídua do Linguageiro, deixou um comentário na postagem de anteontem e, nesse comentário, utilizou a expressão "em vez de". Um amigo leu o comentário e, lá mesmo na postagem, questionou se o correto não seria utilizar "ao invés de". Nos comentários, deixei explicado, mas resolvi criar este post para tentar esclarecer essa dúvida que assombra a mente de várias pessoas. :)

Vamos lá.

Ao invés de x Em vez de

Já começarei discordando de mim mesma ao colocar uma expressão versus a outra, porque elas não são de todo opostas. No entanto, há, sim, uma pequena diferença entre elas:

  • Ao invés de: ao contrário de
    • Apesar de ser utilizada em abundância na locução "ao invés de", a palavra "invés" existe independente e significa contrário, oposto, avesso. Por isso, a locução é idêntica semanticamente à expressão "ao contrário de".
    • Deve ser utilizada apenas quando se quer tratar de duas "coisas" realmente opostas, contrárias.
  • Em vez de: no lugar de, na vez de
    • Essa expressão pode ser utilizada tanto para contrapor "coisas" opostas quanto para contrapor "coisas" que, por natureza, não apresentam esse caráter opositivo.
Exemplos:

(1a) Em dias de sol forte, ao invés de usar roupas pretas, utilize roupas brancas.
(1b) Em dias de sol forte, em vez de usar roupas pretas, utilize roupas brancas.

1 - Aqui, tanto faz usar uma ou outra expressão, porque PRETO e BRANCO são duas ideias realmente opostas.

(2a) Em dias de sol forte, ao invés de usar amarelo, utilize preto.
(2b) Em dias de sol forte, em vez de usar amarelo, utilize preto.

2 - Amarelo e preto são, obviamente, cores diferentes, mas não podemos classificá-las como opostas. Preto é oposto de branco porque, a rigor, "branco é a presença de todas as cores" e "preto é a ausência de todas as cores".

No comentário de Priscila, ela construiu: "em vez de domicílio, usássemos casa (...)". Aqui, podemos concluir, então: se domicílio = casa, não faz sentido utilizar "ao invés de", uma vez que as palavras são sinônimas. :)

Penso, pois, que, surgindo a dúvida, é melhor optar pela expressão em vez de, porque ela pode ser usada mais amplamente. :)

Mas fiquem ligados para a grafia da palavra invés, pois muita gente por aí costuma grafá-la das seguintes formas: invez ou mesmo invéz. ;)

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Quem tem medo de nomenclatura?

Se eu tenho jeito para escrever, desenrolei isso com a minha mamadi, mas não me cansarei de agradecer diariamente ao meu pai por ter sido tão irônico tantas vezes ao longo dos nossos quase 16 anos de convivência. As ironias finíssimas que ele soltava acabaram por aguçar a percepção que minha irmã e eu temos das coisas. Minha sis herdou o raciocínio lógico ultrarrápido - tipo... eu gosto de assistir a filmes de suspense com ela, porque ela sempre saca as coisas antes de  mim e, achando tudo muito óbvio, solta o mistério com desprezo; eu, com inveja, sempre concordo como se também já tivesse sacado aquilo há séculos! :P Mas bem, ela herdou o raciocínio lógico e acho que eu fiquei com o feeling para entender as palavras. Modéstia à parte, estamos ambas bem servidas, creio. :)

Então o que me aconteceu foi: quando meu pai me ensinava matemática fazendo questão de que eu compreendesse cada uma das palavras dos enunciados, acabei automatizando esse hábito e, ao deparar com palavras estranhas como adjunto, adnominal, adverbial, oração subordinada, oração coordenada, assindética, etc., dificilmente eu me assustava, porque quase tudo era bem lógico pra  mim.

Escolhi, então, algumas nomenclaturas que costumam apavorar as pessoas na hora da tão temida análise sintática. ;) Não vou "dar aula" de análise sintática, tá? Só vou tentar explicar, porque, por mais que a maioria de nós não vá mais usar essas nomenclaturas, não custa entender, né? E, também, acredito que isso pode ajudar os concurseiros de plantão. ;)

*Gláucia, perdoa esta discípula, perdoa!? :)

Bora lá!
As nomenclaturas escolhidas para hoje foram:
  • predicado / predicativo / verbo de ligação
  • adjunto adnominal / adverbial
Depois eu trago mais. :)

Predicado, predicativo e verbo de ligação

Quando estava com meus pirralhos, fazia questão de que eles vissem o significado de "predicar" no dicionário. No geral, eles entendiam que "predicar" era "dizer algo sobre alguém ou alguma coisa" e, assim, não ficava mistério sobre a função do predicado dentro das orações: dizer algo sobre o sujeito, por meio de um verbo, de uma maneira bem abrangente.

Era bem tranquilo, para os pirralhos, encontrar o núcleo do predicado quando os verbos eram "de ação". Mas meus amados sofriam quando chegavam os tais verbos de ligação e a parte mais importante do predicado não era mais o verbo, mas o que eles passariam a chamar de predicativo.

Aí eu lembrava a aula do dicionário e sacava de novo o livrinho para eles relerem o que era "predicar", só pra lhes refrescar a memória. Depois, expunha no quadro o poema Irene no céu, de Manuel Bandeira:
Irene no Céu
Irene preta
Irene boa
Irene sempre de bom humor.
Imagino Irene entrando no céu:
- Licença, meu branco!
E São Pedro bonachão:
- Entra, Irene. Você não precisa pedir licença.
Chamava a atenção deles para a primeira estrofe e perguntava o que ela queria dizer. Sem pestanejar, eles diziam: "Tia, ele quis dizer que Irene é preta, Irene é boa e Irene está sempre de bom humor." E muitos, com euforia, entendiam por que os verbos de ligação são chamados assim, afinal, eles são quase sempre desnecessários para a compreensão da ideia, já que, muitas vezes, podemos suprimi-los e o que queremos dizer sobre o sujeito não ficará comprometido. Ele serve, então, para ligar o sujeito àquilo que se diz, de fato, sobre ele: preta, boa, sempre de bom humor.

Depois, ficava mais fácil compreender por que esse tipo de predicado era chamado de nominal: a parte mais importante era sempre o nome (substantivo, adjetivo ou pronome) que era dito sobre o sujeito, não o verbo em si.

Nesse momento, sempre há quem levante a questão: "Mas como assim o verbo não interessa? Dizer que alguém está bonito não significa dizer que ele é bonito. Aí o verbo importa, sim!" Ora pois! :) Isso é verdade, mas convenhamos que o foco não é "ser sempre" ou "estar", né? No momento dessa interlocução, o que se quer frisar é a beleza da pessoa naquele momento, independente do passado ou do futuro.

Só sei que, assim, chegávamos à compreensão do que era o predicativo: ele não é O predicado porque não compreende o verbo, mas é quase isso, pois é aquilo que se diz, de fato, sobre o sujeito. (Estou ignorando, aqui, o fato de existirem os predicados verbo-nominais e os predicativos do objeto, tá? Afinal, a ideia é entender por que chamamos de predicativo.)

Se o verso de Bandeira fosse "Irene é preta", teríamos:
    • Sujeito: Irene
    • Predicado: é preta
    • Verbo de ligação: é
    • Predicativo: preta
:)


Adjunto adnominal / adverbial

Tem gente que resolve estudar Engenharia porque não entende português, mas entende um triângulo retângulo, por exemplo:



Perdoo os meus pirralhos da 6ª série (7º ano) que não entendem os triângulos retângulos, porque acho que isso só é estudado na 7ª série, ou no final da 6ª, bem depois de eles começarem a estudar análise sintática.

Na Geometria, sabemos que os triângulos retângulos são aqueles que possuem um ângulo reto (90º). Os lados desses triângulos têm nomes, como também sabemos: os lados que formam o ângulo reto são carinhosamente chamados de catetos; o lado oposto ao ângulo reto, por sua vez, é carinhosamente chamado de hipotenusa. Ninguém pergunta por que se chama "cateto" ou "hipotenusa", né? A nomenclatura desce goela abaixo e ninguém reclama. Ninguém reclama, também, de precisar decorar que os outros dois ângulos são sempre formados por "um cateto adjacente + hipotenusa"... O_o

Se os professores de matemática, de uma maneira geral, também estivessem preocupados com a língua, acredito que o pavor de muuuita gente seria diminuído. Ora, ora, vamos lá.

Os catetos são chamados de adjacentes somente quando o ângulo em questão é aquele que eles ajudam a formar com a hipotenusa. São adjacecntes porque, em latim, o prefixo ad- significa aproximação. Logo, se o ângulo de que eu quero falar é o ângulo α, exposto lá em cima, eu devo considerar o cateto que lhe serve como um dos lados para a composição do ângulo. ;)

Em análise sintática, os termos chamados de adjunto não poderiam seguir outro raciocínio. ;) Se ad- significa "próximo" e "junto" significa "junto", então os adjuntos são aquelas palavras que vêm junto de outras para lhes acrescentar alguma informação. São, em sintaxe, o que consideramos como determinantes de um dado núcleo (palavra principal); são as palavras que rodeiam esse núcleo para especificá-lo mais. Adnominal serve para os nomes (substantivos, pronomes); adverbial, para as palavras que os advérbios costumam qualificar (verbo, advérbio, adjetivo).

No período "O pato pateta pintou o caneco", identificaríamos:
    • Sujeito: o pato pateta
    • Adjuntos adnominais: o / pateta
      • Isso porque eles determinam quem é o pato, especificam esse substantivo nuclear pato.
    • Predicado: pintou o caneco
      • Aqui, no predicado, temos outro substantivo: caneco, que também tem um adjunto adnominal: o
No período "Caiu no poço" (o mesmo pato pateta de Toquinho), teríamos:
    • Sujeito oculto: ele (o pato pateta)
    • Predicado: Caiu no poço
    • Adjunto adverbial: no poço
      • "no poço" é uma locução adverbial, porque tem valor de advérbio (de lugar). Nas orações, as classes gramaticais deixam de ser classificadas como classe e recebem funções. No caso dos advérbios, eles assumem a função de adjuntos adverbiais.
Esse raciocínio é sobre as nomenclaturas e acaba só servindo de base para os raciocínios futuros, porque, em períodos mais elaborados, mais complexos, os "adjuntos" adverbiais podem vir beeem separados do predicado, mas isso não desmente ou desvaloriza a nomenclatura, ok? :)

oi gata mim add ai flw

[O Blogger, só Deus sabe por que, havia tirado esta postagem do ar. Só fiz publicá-la novamente, mas há nada de novo.]

Tem coisas que só mesmo o Orkut proporciona a você. ;)

Levanta a mão quem aí já recebeu um pedido de adição que vinha com mensagens tipo 'oi gata mim add ai flw?!" o/


O melhor é que elas sempre vinham de cidadãos cuja foto era fazendo um hang loose ou cruzando os braços, fazendo cara de mal encarado e, se possível, sempre com aqueles óculos escuros HB. (Esse estereótipo soa um pouco preconceituoso, mas é um padrão mesmo.) O e-mail da pessoa, claro, era sempre algo do tipo "maninhow_tjs@hotmail.com" ou "manowbroder_sk8@hotmail.com".

Esses míni-recados são um prato cheio para qualquer aula de português, ignorarei a primeira regra básica da boa escrita, que é o uso de letra maiúscula no início das frases, porque costumo desrespeitá-la bastante nas redes sociais (abafa!).

Comecemos, então, por uma regrinha de pontuação fundamental: "gata" é o vocativo, ou seja, a palavra que o ManowBroder usou para se dirigir a mim. Quando, nas nossas frases, empregamos um vocativo, ele deve vir entre vírgulas. ManowBroder deveria ter dito, então, "Oi, gata". Depois do "gata", ele poderia ter inserido outra vírgula, ou colocado um ponto, ou uma exclamação (!), mas era mesmo necessário que, após a palavra, existisse alguma pontuação.
*Não estou certa, mas talvez as interjeições devam-se ligar aos vocativos sem a vírgula, porque vejo, com  relativa frequência, pessoas que eu respeito muito em termos de escrita escrevendo dessa forma. Mas nunca li em canto algum e, por isso, vou deixar a regra do vocativo prevalecer, ok?

Na sequência, um erro clássico e crasso das redes: "mim" no lugar de "me". Tem até os que inovam e dizem "min", mas esses são uma minoria egoísta e exclusivista. E qual é o problema aí? O_o É que mim é o que chamamos de pronome oblíquo tônico. Quando pequenos, decoramos que existem os pronomes pessoais, né? Depois a professora ensina que eles podem ser do caso reto ou do caso oblíquo. Aí a pirralhada toda recita, em uníssono: "eu, tu, ele/ela, nós, vós, eles/elas"; "me, mim, comigo, te, ti, contigo, o, a, lhe, se, si, consigo, nos, conosco, vos, convosco, os, as, lhes, se, si, consigo" - uns economizam os duplicados, o que é bastante compreensível. Mas poucas professoras ensinam a diferença entre os oblíquos, subdivididos em átonos e tônicos. :( Já falei aqui no blog um pouco sobre tonicidade, quando falei dos porquês. O lance é bem simples: os tônicos são aqueles que, na pronúncia, são tônicos! :) Redundante assim! É só lembrar da sílaba tônica. ;) E o que acontece? Os pronomes oblíquos tônicos são sempre regidos por preposição, ou seja, é necessário que haja uma preposição antes deles. Por isso, dizemos "este presente é para mim", "a menina trouxe a água para si", "gosto muito de ti", etc. Talvez alguém pergunte "e esses comigo, contigo, consigo...?". Lááááááááá no latim, a gente dizia "cum te", "cum me", etc. Ficava bem feio e, foneticamente falando, era mais difícil de articular. As evoluções aconteceram e acabamos alterando a ordem preposição + pronome, ficando, pois, "tecum", "mecum". Em português, tenho a impressão de que a estrutura era "migo", "tigo" e "sigo" mesmo, daí, como esses pronomes eram sempre regidos pela preposição "com", o uso acabou por incorporar a preposição às próprias palavras, como no latim. Dessa forma, conseguimos "comigo", "contigo", etc. Então, gente, a preposição já está incluída aí nesses pronomes e, por isso, não há necessidade de ooooutra preposição antes deles. ;)

Até agora, ManowBroder deveria ter escrito: "Oi, gata, me..", blz?

O verbo to add é da língua inglesa e significa adicionar. Como a maioria das redes sociais é criada em inglês, muitas palavras inglesas acabam sendo incorporadas ao nosso linguajar e, muitas vezes por preguiça, acabamos utilizando-as a torto e a direito. Vamos perdoar essa, tá?

Depois tem aquele "aí", que os ManowBroders sempre escrevem sem acento. :( Aí, meu povo, fica só um ai, desses que a gente diz quando alguém dá um beliscão na gente, sabe!? Em português, tanto a vogal i quanto a vogal u serão acentuadas graficacmente se forem a segunda vogal tônica de um hiato, se estiverem sozinhas ou seguidas de S e não seguidas por NH: Lu-í-sa / ju-í-za / pa-ís / Lu-ís / a-ça-í / ba-ú / Cam-bo-ri-ú, etc. (Quando, depois do "i" ou do "u", houver um "nh", eles não serão acentuados, porque a nasalidade do "n" é transferida para as vogais anteriores e, assim, elas acabam ganhando a sua tonicidade: ra-i-nha, ba-i-nha).
    • Um detalhe para o qual quero chamar atenção é que, após o novo Acordo Ortográfico, não iremos mais acentuar graficamente nem o "i", nem o "u" tônicos, nas palavras paroxítonas, quando eles vierem depois de um ditongo decrescente: baiúcabaiuca, bocaiúvabocaiuva, feiúrafeiura.
Por fim, meu aspirante a amigo no Orkut deveria ter posto uma vírgula depois do "add", porque esse "flw" (falou) é uma expressão utilizada para checar o canal, isto é, se o interlocutor captou a mensagem. Lááááá naquelas aulas de figuras e funções da linguagem, ensinam à gente que isso é a função fática. É o que eu faço muito aqui, usando "né?", "ok?", "saca?", etc. ;)

É isso, galera! :) E essa postagem me deu ânimo para falar de um tal "teste do msn" que eu costumo(mava) fazer, mas isso são cenas de um próximo capítulo. ;)


Observações da postagem:
1 - Queridos amigos do Direito, vocês vivem com aquele livrinho (inho?) Vade mecum embaixo do braço, né? Já se perguntaram o que significa "vade mecum"? É "vai comigo", em latim. Por isso que vocês vivem com ele para cima e para baixo, ó! ;)
2 - TJS e SK8, lá no começo da postagem, significam Torcida Jovem do Sport e Skate, para quem não sabe.

terça-feira, 24 de maio de 2011

É pizza? Entregamos em domicílio

Há várias postagens em rascunho esperando serem concluídas para virem ao ar por aqui. Mas, passeando pelos perfis dos amigos no Facebook, encontrei esta placa que, inevitavelmente, me arrancou um sorriso discreto.


A maioria de vocês já deve ter ouvido falar do livro O Brasil das Placas, né? Se não ouviu ainda, é um livro em que constam  várias placas de caracteres para lá de diversos, espalhadas pelo Brasil. Não quero, porém, falar do livro ou das placas, mas é que essa daí me lembrou um assunto bem discutido nas aulas de português, que é a tal da expressão "entregamos a domicílio" e todas as suas variantes.

Para começarmos a conversa, resolvi fazer uma busca no Dicionário Eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa, que me disse:

domicílio
substantivo masculino 
1 residência habitual de uma pessoa; casa, habitação
2 Derivação: por extensão de sentido.
lugar (cidade, distrito, região etc.) onde se situa essa habitação
3 Rubrica: termo jurídico.
local onde se considera estabelecida uma pessoa para os efeitos legais, onde se encontra para cumprir certos atos ou onde centraliza seus negócios, atividades, não forçosamente o lugar onde dorme
4 Rubrica: termo jurídico.
lugar onde funcionam as diretorias e administrações de pessoas jurídicas
5 Rubrica: astrologia.
casa zodiacal em que o planeta correspondente encontra-se situado
Ex.: o sol que rege o signo de leão encontra-se em seu domicílio.

A primeira definição já nos serviria, mas não vi problemas em deixar todas as acepções oferecidas pelo Houaiss eletrônico.

Para alguns, talvez não tenha ficado claro o equívoco da placa, mas é o lance é: casa e domicílio são sinônimos. Logo, um pintor só poderá pintar a sua casa, de fato, em domicílio (no seu, não no dele).

Isso tudo, então, me fez lembrar aquela construção "Entregar a domicílio", que às vezes varia em "Entregar à domicílio", etc. Vamos aos casos?

  • Entregar a domicílio
    • Se domicílio = casa, significa que a empresa entregará a encomenda à sua casa. Para ser mais precisa, não é você ou qualquer outra pessoa quem receberá a encomenda, mas a sua casa. Isso mesmo, a sua casa!, essa estrutura de tijolo e cimento que protege você do sol e do frio, entre outras coisitas mais.
  • Entregar à domicílio
    • Aqui, persiste a ideia do tópico anterior, mas podemos acrescentar o equívoco no emprego do acento grave, indicador da crase. Domicílio é um substantivo masculino e, por isso, não poderia ocorrer crase diante dele, neste caso, porque ele não aceita o artigo feminino "a". Se a estrutura não violasse o raciocínio do tópico anterior, poderíamos dizer "entregar ao domicílio", mas, como viola...
E como diabos ficaria corretinho, então? Bora pensar: o motoqueiro entregará uma pizza a quem? A uma pessoa que esteja NO domicílio. A pessoa estará NO domicílio porque "o domicílio" é um local físico e, normalmente, estático. Assim sendo, o melhor é dizer que se faz entrega em domicílio, porque, chegando lá, quem puder receber receberá. :)

Entregamos pizza. > A quem? > Aos clientes. > Onde? > Nos domicílios.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

¡Hola! ¿Qué Tal?

O Blogger esteve em manutenção por esses dias e, depois disso, o Linguageiro entrou de férias porque está passeando por Boníssimos Ares. ;)

¡Hasta luego!

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Não tem senão, porque o assunto é fácil

Hoje tem uma postagem bem curta e light, sobre duas estruturas que confundem bastante as pessoas por aí. Por coincidência, um amigo me perguntou outro dia sobre a diferença entre senão e se não. Ontem, uma amiga veio-me mostrar o vídeo que resolvi incluir só ao final deste post, porque é bem divertido e, já no fim dele, também se fala da diferença entre senão e se não. Vale assistir até o final! :)

Mas bem...
Quando meu amigo me perguntou a diferença entre as duas estruturas, falei que era bem simples e, de fato, não precisamos de nomenclaturas muito complicadas para explicar a diferença entre elas. ;) Pra resumir bem resumidinho, usamos senão quando a ideia é dizer:
  • de outro modo / do contrário:
    • Volte logo, senão morrerei de saudade.
      • Volte logo. Do contrário, morrerei de saudade.
  • mas / mas sim / porém:
    • Depois do show, não recebeu aplausos nem respeito, senão vaias e tomates.
      • Depois do show, não recebeu aplausos nem respeito, mas vaias e tomates.
  • com exceção de / a não ser / salvo / exceto
    • Todos, senão você, choraram ao assistir àquele drama.
      • Todos, exceto você, choraram ao assistir àquele drama.
  • pequena imperfeição / falha / defeito
    • Nas suas provas, não houve qualquer senão.
      • Nas suas provas, não houve qualquer falha.
*Nesse último exemplo, também costumamos usar "porém". Meu amigo, inclusive, me perguntou se era equivocado usar "porém" como substantivo, mas não, não é equivocado nem inadequado. :)

A estrutura se não indica uma condição, porque é a combinação de se (conjunção condicional) + não (advérbio de negação). Por ser se + não, é só pensar nas estruturas comuns: quando é que eu uso a condicional "se"? Ora! Quando eu quero dizer que, se alguma coisa acontecer, outra acontecerá (ou não):
  • Se não voltar logo, morrerei de saudade.
    • Se voltar logo, não morrerei de saudade.
  • Se não chover, sairei de casa à tarde.
    • Se chover, não sairei de casa à tarde.
*Nesses exemplos, fiz questão de inverter as ideias, para que vocês visualizassem melhor que SE + NÃO é uma combinação passível de separação, ó! :)

Né simples? (Eu acho!) :)




Observações
1 - Estou super com sono e talvez esta postagem mereça uma revisão depois.
2 - Existe uma opção em que a estrutura "se não" vai ficar parecendo mal empregada, mas o meu amigo que me perguntou sobre o assunto foi bem feliz numa colocação: "Anoca, eu tô a fim de ocultar essas coisas não. Minha ideia não é escrever poema! ahahaha" Ele disse isso porque a opção é a seguinte: quando demonstramos incerteza sobre uma informação ou quando queremos dar a ela uma possibilidade a mais, podemos ocultar o verbo anteriormente expresso e dizer apenas: Apresentarei três trabalhos, se não quatro. Aqui, se prestarmos bastante atenção, a ideia é dizer Apresentarei três trabalhos, se não forem quatro / Apresentarei três trabalhos, se é que não são quatro. Sacaram!? ;)

terça-feira, 10 de maio de 2011

"Menas" regras, então? :)

Uma professora minha me enviou uma mensagem pelo Facebook comentando a última postagem daqui do blog. Pedi a ela que postasse aqui, como um comentário, porque seria enriquecedor. Mas, como se tratava de uma crítica à postagem, ela preferiu escrever de forma privada, para que pudéssemos trocar ideias.

Admiramo-nos reciprocamente, isso é fato, e nunca, em situação alguma, acharia que o comentário dela pudesse-me diminuir. :) Ao contrário, se ela me dissesse "você não sabe do que está falando", não encararia como algo destrutivo, mas que me seria dito para eu melhorar. :)

A mensagem dela continha, em resumo, o seguinte: a gramática normativa precisará aceitar a indistinção entre "onde" e "aonde". O que, na postagem, chamou a atenção dela foi o período em que eu me dizia preocupada com esses usos indistintos, uma vez que eles não causam problemas para a compreensão dos textos. Apesar de elogiar a iniciativa de explicar a diferença, por haver quem prefira obedecer à norma padrão, ela enxergou um preconceito não muito discreto.

A preocupação da minha professora foi eu ter usado dois exemplos de interlocuções informais, em que somos relativamente livres para nos expressarmos. Pareceu preconceituoso e, por me conhecer bem, ela me deu esse "puxão de orelhas", porque pode não soar bem diante de muita gente, especialmente da comunidade acadêmica.

Isso é verdade e, como diz o ditado, toda brincadeira tem um fundo de verdade. Tenho, sim, alguns preconceitos. :( Não é bonito afirmar isso, especialmente de uma maneira tão pública, porque a língua é viva e evolui de acordo com o uso. Mas uma coisa queria deixar clara: não critico os que, ao contrário da maioria de nós, não tiveram acesso a  uma educação de qualidade, na escola ou mesmo dentro de casa. Para essas pessoas, guardo todo o meu respeito, de coração. Só que me irrita (e muito!) ver pessoas como eu, que passaram por excelentes escolas e faculdades, insistirem em usar o que bem entendem, porque tanto faz.

A propaganda do Shopping Tacaruna, apesar de apresentar uma interlocução informal, não deixa de ser peça veiculada para grande parte da população. Dizer "Tás aonde?" não agride, assim como dizer "Tás onde?" também não. Em inglês, ninguém morre por aprender (decorar) phrasal verbs e não fica resmungando porque to look to look after to look up to look ahead ≠ to look back, etc. Mas, porém, contudo, entretanto e todavia, como "português é muito difícil", a galera da geral tende sempre a simplificar da maneira que lhe for mais conveniente, mesmo que isso signifique transgredir o estabelecido como norma padrão.

Nessa troca de mensagens, comentei que, se essas regências, grafias e concordâncias ainda não aceitas pela norma padrão não merecem restrição quanto ao seu uso, muito em breve expressões como "menas gente" e "meia cansada" também terão de ser aceitas. Quando me dizem "vamos por ali, porque tem menas gente" ou "Fulaninha não vem hoje porque está meia cansada", entendo perfeitamente e mentirá quem disser haver falha na comunicação, né? Todo mundo entende isso e por que seria mais ou menos grave que "Tás aonde?" e "Vou no cinema assistir um filme de Tarantino"? :) Se pode uma hoje, pode tudo, né? Por que pesos diferentes?


Penso que as pessoas deveriam ser menos ariscas com as regras. Desobedecer a algumas faz mal a ninguém, porque a naturalidade é a alma do negócio, mas desobedecer mesmo quando o padrão é pra lá de natural? O_o Disso, sim, queixar-me-ei.


Observação:

Após reler esta postagem, percebi muito sarcasmo em quase todos os parágrafos, mas não quero, pelamordedeus, tentar provar que existe alguém certo nessa história toda, ok!? :) Eu só gosto de polêmica. :) E, Gláucia, eu também gosto muito de você! :*

quinta-feira, 5 de maio de 2011

"Aonde" o que, rapaz!?

Acabei de ver, no Facebook, uma amiga comentando ter visto um assalto em alguma rua do Recife, apesar de toda chuva, todo alagamento, caos e transtorno sob os quais se encontra a cidade. Imediatamente, uma amiga dela perguntou: (Preservei, claro, a identidade de todas as pessoas envolvidas, exceto a minha.)


Esse é um equívoco bastante comum entre as pessoas e, sempre que leio/ouço, lembro imediatamente a propaganda do Shopping Tacaruna (Olinda, PE) para o dia das mães de 2009 (creio que seja 2009, porque é a última propaganda de que tenho lembrança e, em 2010, eu já estava em Belo Horizonte):



Pois bem, gente. Vindo de mortais, essa troca entre onde/aonde não me choca tanto, mas em propagandas que vão ao ar na Rede Globo...? :( Peço perdão aos que produziram o vídeo, que, para mim, é de péssima qualidade, independente do equívoco no uso de aonde. Peço perdão porque fico preocupada, de coração, com os profissionais que se têm formado por aí, nas mais diversas áreas. Acho que deu pra perceber que, para mim, um professor de português não precisa se policiar (e sofrer!) para estar dentro de todas as normas que determina a gramática tradicional. Mas existem coisas que, se não nos mantivermos atentos, viram bagunça e a indistinção nos usos poderá, por que não?, dificultar num futuro bem distante o aprendizado da língua portuguesa por falantes não nativos. (Um drama, mas eu acho que tudo tem limite mesmo.)

Mas vamos lá.

Onde sempre indica local estático. Utilizamos onde, pois, quando queremos dizer ou saber em que lugar algo ou alguém se encontra:
  • Onde você viu essas frases? No mural de uma amiga no Facebook.
  • Não sei onde pus os óculos.
    • Você os colocou em cima da estante.
Notem que "no mural de uma amiga no Facebook" e "em cima da estante" não indicam qualquer ideia de movimento.

No entanto, muitas pessoas utilizam, em vez de onde, seu irmão aonde, que também existe, mas que indica certo movimento, pois significa para qual direção, para qual lugar.

Para assimilar bem ele, é importante que as pessoas notem a primeira diferença básica: aonde = a (preposição) + onde (advérbio). Se é preposição A + advérbio e sabemos que a preposição "a", quando se refere a lugares, remete-nos à ideia de movimento, deveríamos raciocinar que ela equivale a "para" e, logo, aonde = para onde.

Duvido muito que as pessoas cometessem esse equívoco se parassem para pensar 1s nisso que estou propondo. Parece que o povo acha mais bonito enxertar as palavras com mais letras/fonemas, assim como acha que falar bonito é falar "difícil".

Então, gente, se a pessoa lá de cima do mural do Facebook tivesse feito esse raciocínio, tenho sérias dúvidas se ela teria dito "para onde?", ao querer saber onde ocorrera o assalto.

Espero que, daqui pra frente, vocês fiquem atentos a essa diferença, porque pode não significar muita coisa, afinal, nas conversas informais, muitos equívocos são perdoados, mas dificilmente isso fica restrito aos contatos pessoais. Aí, amiguinhos, chegar ao trabalho perguntando "aonde o chefe pôs os documentos" pode soar algo parecido com "vamos por ali, que tem menas gente", quando você arruma um(a) paquera num show e ele(a) te "arrasta" a um canto, querendo fugir da multidão.

Não prefiro mais

Nas redes sociais de que participo, tenho sempre perguntado aos amigos e conhecidos sobre palavras e expressões que lhes saltam aos olhos (ou aos ouvidos) nas conversas do dia a dia. Um dos meus amigos, por exemplo, me disse que não sabia haver tantas pessoas no mundo que escrevessem escultar. A minha ideia com este blog não é bem explicar regras e regras, sabe? Eu queria que fosse uma conversa informal sobre assuntos bem corriqueiros, como esses que tenho abordado.

Aí sim! Escutar, gente, não é grafada com "L". No latim, o verbo era auscultare, mas, em português, ele acabou vindo um pouquinho diferente: escutar. No entanto, também temos o verbo auscultar, em português, que também significa "ouvir", mas é um pouco mais específico e não costuma ser aplicado a qualquer audição.

Mas aí tem umas outras coisas que intrigam bastante, principalmente considerando o que falei sobre meu pai ter-me ensinado a pensar. Uma amiga me falou agora no Msn sobre o verbo preferir, que confunde muita gente quanto à regência. Sobre ele, não há muito o que filosofar: o verbo preferir é o tipo de verbo a que chamamos de transitivo direto e indireto, ou seja, aquele que precisa de dois complementos (objetos) e um deles precisa-se unir ao verbo com o auxílio de uma preposição. No caso de preferir, a preposição é a preposição "a" e só ela: Prefiro chocolate branco a chocolate ao leite / Prefiro futebol a vôlei / Preferimos pizza a crepe, etc.

É uma questão bem de decorar, sabe?

Maaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaas, como minha ideia aqui não é ensinar ninguém a decorar, tem outra coisa que me parece bem mais interessante sobre o verbo preferir! Ahá! :)

Tem uma galeeeeeera que tem uma mania muito feia de dizer que "prefere mais alguma coisa". O_o Alô-ô! A ideia de preferir é já "gostar mais de". Quando você prefere alguma coisa, está implícita no verbo a ideia de que essa coisa preferida é "a mais mais", "o supra-sumo" da categoria! :)

Dizer que "prefere mais" é a mesma coisa de de dizer "o mais perfeito" ou "o mais ótimo", saca? Perfeito e ótimo já são absolutos por essência! :)

Observações da postagem
1 - Depois do novo Acordo Ortográfico, não existe mais distinção entre dia-a-dia dia a dia (com e sem hífen). Antes, dia-a-dia era substantivo e significava rotina, cotidiano; e dia a dia era equivalente a "dia após dia". Hoje, tudo é sem hífen e a classificação quanto à classe gramatical vai depender do contexto.
2 - Acho que uma boa postagem seria sobre o porquê de algumas nomenclaturas da gramática normativa. Uma coisa por que eu briguei bastante enquanto ensinava era isso de compreender os nomes que se dão às palavras e suas funções nas frases. Nem todas têm lógica, mas ninguém questiona os postulados na Matemática, né? ;)
3 - Acho que, ao final de cada postagem, vou colocar um item desses de observação, porque sempre surgem algumas palavras ou expressões que costumam gerar confusão na cabeça das pessoas. Veremos se vai funcionar. :)

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Conteúdos

Muita gente me pede para explicar os casos possíveis e obrigatórios de crase, os empregos da vírgula e mais um monte de coisa que muita gramática e muito site já explica por aí.

A ideia deste blog é falar do que costuma confundir as pessoas, mesmo sem elas saberem. Eventualmente, falarei sobre aspectos de que já falam as gramáticas, mas com raciocínios que acredito deixarem mais fácil a compreensão de alguns conteúdos.

Peço, portanto, que vocês me enviem sugestões de conteúdos a serem explorados aqui. Podem enviar por comentários ou, se preferirem, por e-mail (entendo que, por e-mail, fica mais reservado e o medo de cometer algum equívoco ortográfico acaba sendo mais suave).

Conto MUITO com a colaboração de vocês!
:)

terça-feira, 3 de maio de 2011

Feliz e simplesmente

Eu tinha começado a escrever uma postagem contando uma das várias discussões que ando travando, por aí, com os homens das mais diversas idades. Mas acabei desistindo, porque todo o "leriado" acrescentaria muito pouco à ideia deste blog.

Resolvi, então, vir direto ao ponto. (Aliás, vou dar umas voltinhas, senão não sou eu!)

Acho que não compartilhei ainda como fui parar no curso de Letras. Para resumir, digo-lhes que foi graças ao meu pai (já falecido desde 2002). Ele tinha nada a ver com o curso que escolhi pra mim, mas foi peça fundamental nessa minha escolha. Ele era engenheiro e, por isso, sobrava para ele ensinar matemática às suas queridas filhas. Como santo de casa não faz milagre, o pobre sofria com o desânimo que minha irmã e eu exalávamos pelos poros. Se eu pudesse voltar no tempo, tê-lo-ia aproveitado mais. (Mentira! Se eu voltasse no tempo, continuaria tendo pouca idade e não saberia dar o valor que dou hoje ao meu pai.) Mas enfim: ele nos ensinava matemática destrinchando todo e qualquer enunciado. Para aprender que 1 metro equivale a 1.000 milímetros, foi preciso aprender que "metro" era uma unidade de medida, que "quilo" vinha do grego e significava mil, aí passei por "hecto" (=100), "deca" (=10), até chegar ao "mili".

Estudar com meu pai era uma tortura. Era a mesma coisa de aprender a tocar violão, sabe? A gente sempre quer começar tocando a música mais fácil, mesmo antes de saber afinar o violão. Meu caso. (Aliás, eu aprendi a afinar. Só faltou o resto.)

Aí sim. Só depois de o meu pai ter morrido é que eu entendi a importância de compreender cada uma daquelas palavras, cada um daqueles radicais e prefixos. Esse raciocínio me foi muito útil em Biologia, por exemplo, quando deparamos com nomes quase germânicos de plantas e animais.

E o que isso tem a ver?
O lance, galera, é que meu pai me ensinou a pensar. Ele sempre disse: "Minha filha, nunca tenha vergonha de mostrar inteligência. A gente tem vergonha da ignorância. Da inteligência, nunca!" Pois é. *Ignorância, aqui, é do verbo ignorare, ok? Que significa desconhecer, não saber.

É isto que eu tento fazer com as pessoas: tento fazê-las pensar na língua portuguesa como algo possível de ser pensado e, finalmente, compreendido. Tem coisas que não precisam de genialidade para serem sacadas e o que me irrita é a insistência de algumas pessoas em se manterem na escuridão da ignorância.

Galera do meu coração, nem tudo é assim tão lógico, mas não custa abrir um pouco o coração (e os olhos, claro) e perceber que a língua é, muitas vezes, bem lógica.

Então vamos lá (finalmente!).

Espero que pelo menos 98% das pessoas alfabetizadas tenham aprendido a grafar a palavra feliz. Às vezes, mas BEM ÀS VEZES MESMO, encontro um felis vagando triste por aí. Sendo assim, raciocinemos: se feliz é grafada com Z, felizmente também será grafada com Z. No mesmo raciocínio, a gente encontra a palavra simples: se simples é grafada com "e", simplesmente também será grafada com E.

Não fica lindo e mais fácil de decorar? Quem escreve feliz + felismente / simples + simplismente tem muito mais trabalho e ocupa mais memória nesse HD a que chamamos de cérebro.

Assim sendo, queridos meus, sejamos mais felizes e façamos os que nos leem um pouco mais felizes também. :) Pode ser? ;)

Observações:
Nesta postagem, algumas estruturas devem ter saltado aos olhos de vocês, como aquela mesóclise lá de cima (tê-lo-ia) e o "leem" sem acento circunflexo no primeiro "e". Mesóclise tem nada de especial e, se usada com correção e moderação, não fica pedante nem artificial. Quanto ao circunflexo de "leem", "deem", "creem", "voo", "enjoo", etc., eles foram embora com o Novo Acordo Ortográfico. :( E, já que falei em Acordo Ortográfico, por favor não me peçam para explicar todas as mudanças, porque o que mais tem por aí é tabela explicativa e não é pecado consultar sempre que tiver dúvida, ok? :)

domingo, 1 de maio de 2011

, mas ou mas, ?

Geral tem-me perguntado sobre a vírgula antes e depois do "mas".
Esta postagem vai ser do tipo curta e grossa, porque não se tem mesmo muito a dizer.

A dúvida das pessoas reside somente quando o "mas" é uma conjunção, porque aprenderam que, antes dele, sempre há uma vírgula. Né? Mas aí a pessoa está lendo algum artigo bem escrito por aí, de algum autor famoso e bem conceituado, e o danadinho aparece todo atacado, preso entre duas vírgulas. Oh, céus! E agora?

Meus amores, a parada é bem simples: em 99% dos casos, a vírgula antes do "mas" será obrigatória, porque uma das funções das virgulinhas é separar as orações coordenadas (ai!), especialmente as adversativas (ai! - de novo!)

(...) Há propostas para um banho de piscina, para um concurso de rumba e outras trivialidades, mas ninguém topa mesmo porque o Sol (ou melhor "Ele", como dizem com o maior nojo meus amigos Américo e Zequinha Marques da Costa) já deve, contumaz ginasta matutino, estar pendurado à barra do horizonte para a sua atlética flexão de cada dia. O ambiente se está nitidamente desgastando em álcool e semostração. (Vinicius de Moraes)

Eu não andava dormindo bem, mas com a mudança de clima passei a dormir. Andamos uma semana no meio de milionários, hóspedes de um clube gran-fino, onde só os sócios têm direito de se hospedar e... pagar. (Clarice Lispector)

Mas aí, SE EU FOSSE Clarice, teria escrito: "Eu não andava dormindo bem, mas, com a mudança de clima, passei a dormir", porque a expressão "com a mudança de clima" é uma estrutura de valor adverbial e, por ser um adjunto adverbial extenso e, ainda, por vir deslocado no meio da frase, deveria vir entre vírgulas. Aí, queridos meus, a vírgula depois do "mas" tem nada a ver com o coitado, mas é algo pedido pela expressão seguinte, que precisaria vir entre vírgulas. (O mesmo vale para a vírgula depois do "e", como neste mesmo parágrafo, em que fiz questão de propor duas vezes.)

Deu pra sacar!? ;)

Portal Globo.com

Nem todo mundo sacou, mas o portal Globo.com se equivocou ao dizer "Entenda porque Kate...". A ideia da chamada era fazer as pessoas entenderem por quais motivos/razões Kate Middleton não seria princesa mesmo depois de se casar com o Príncipe William.

Muitas pessoas acharam que o equívoco estava em "se casar", pois acreditaram que o correto seria "casar-se". Nesse caso, tanto faz. Não sou a pessoa mais indicada para falar de colocação pronominal, porque tenho um discreto pavor às ênclises, uma quedinha pelas mesóclises impróprias e paixão pelas mesóclises. A questão é que tudo isso tem nome muito do complicado e, no fim das contas, a ideia é fazer-se compreender, né mesmo? A minha intenção é de que este blog seja mesmo linguageiro e se expresse como eu costumo me expressar.

Mas, antes que eu esqueça: por que tanto faz?

É que o inifinitivo faculta a posição do pronome, mesmo havendo um atrator para ele. ;) E, também, no que diz respeito à linguagem jornalística, a ideia é sempre escrever de um jeitinho mais acessível à maioria, né? ;)