terça-feira, 3 de maio de 2011

Feliz e simplesmente

Eu tinha começado a escrever uma postagem contando uma das várias discussões que ando travando, por aí, com os homens das mais diversas idades. Mas acabei desistindo, porque todo o "leriado" acrescentaria muito pouco à ideia deste blog.

Resolvi, então, vir direto ao ponto. (Aliás, vou dar umas voltinhas, senão não sou eu!)

Acho que não compartilhei ainda como fui parar no curso de Letras. Para resumir, digo-lhes que foi graças ao meu pai (já falecido desde 2002). Ele tinha nada a ver com o curso que escolhi pra mim, mas foi peça fundamental nessa minha escolha. Ele era engenheiro e, por isso, sobrava para ele ensinar matemática às suas queridas filhas. Como santo de casa não faz milagre, o pobre sofria com o desânimo que minha irmã e eu exalávamos pelos poros. Se eu pudesse voltar no tempo, tê-lo-ia aproveitado mais. (Mentira! Se eu voltasse no tempo, continuaria tendo pouca idade e não saberia dar o valor que dou hoje ao meu pai.) Mas enfim: ele nos ensinava matemática destrinchando todo e qualquer enunciado. Para aprender que 1 metro equivale a 1.000 milímetros, foi preciso aprender que "metro" era uma unidade de medida, que "quilo" vinha do grego e significava mil, aí passei por "hecto" (=100), "deca" (=10), até chegar ao "mili".

Estudar com meu pai era uma tortura. Era a mesma coisa de aprender a tocar violão, sabe? A gente sempre quer começar tocando a música mais fácil, mesmo antes de saber afinar o violão. Meu caso. (Aliás, eu aprendi a afinar. Só faltou o resto.)

Aí sim. Só depois de o meu pai ter morrido é que eu entendi a importância de compreender cada uma daquelas palavras, cada um daqueles radicais e prefixos. Esse raciocínio me foi muito útil em Biologia, por exemplo, quando deparamos com nomes quase germânicos de plantas e animais.

E o que isso tem a ver?
O lance, galera, é que meu pai me ensinou a pensar. Ele sempre disse: "Minha filha, nunca tenha vergonha de mostrar inteligência. A gente tem vergonha da ignorância. Da inteligência, nunca!" Pois é. *Ignorância, aqui, é do verbo ignorare, ok? Que significa desconhecer, não saber.

É isto que eu tento fazer com as pessoas: tento fazê-las pensar na língua portuguesa como algo possível de ser pensado e, finalmente, compreendido. Tem coisas que não precisam de genialidade para serem sacadas e o que me irrita é a insistência de algumas pessoas em se manterem na escuridão da ignorância.

Galera do meu coração, nem tudo é assim tão lógico, mas não custa abrir um pouco o coração (e os olhos, claro) e perceber que a língua é, muitas vezes, bem lógica.

Então vamos lá (finalmente!).

Espero que pelo menos 98% das pessoas alfabetizadas tenham aprendido a grafar a palavra feliz. Às vezes, mas BEM ÀS VEZES MESMO, encontro um felis vagando triste por aí. Sendo assim, raciocinemos: se feliz é grafada com Z, felizmente também será grafada com Z. No mesmo raciocínio, a gente encontra a palavra simples: se simples é grafada com "e", simplesmente também será grafada com E.

Não fica lindo e mais fácil de decorar? Quem escreve feliz + felismente / simples + simplismente tem muito mais trabalho e ocupa mais memória nesse HD a que chamamos de cérebro.

Assim sendo, queridos meus, sejamos mais felizes e façamos os que nos leem um pouco mais felizes também. :) Pode ser? ;)

Observações:
Nesta postagem, algumas estruturas devem ter saltado aos olhos de vocês, como aquela mesóclise lá de cima (tê-lo-ia) e o "leem" sem acento circunflexo no primeiro "e". Mesóclise tem nada de especial e, se usada com correção e moderação, não fica pedante nem artificial. Quanto ao circunflexo de "leem", "deem", "creem", "voo", "enjoo", etc., eles foram embora com o Novo Acordo Ortográfico. :( E, já que falei em Acordo Ortográfico, por favor não me peçam para explicar todas as mudanças, porque o que mais tem por aí é tabela explicativa e não é pecado consultar sempre que tiver dúvida, ok? :)

3 comentários:

Leon Victor de Queiroz Barbosa disse...

Po! Tu devia ter sido minha professora de português! Sinceramente, saber português muita gente sabe. Saber transmitir é pra quase ninguém. Tu bota Betânia no chinelo!!!! Beijos pernamineiros de LEON :****

Cecília Freitas disse...

"Como santo de casa não faz milagre, o pobre sofria com o desânimo que minha irmã e eu exalávamos pelos poros"

E olhe que eu gostava de matemática haiuahuiahuiaha
Mas era um saco mesmo :~

Ana Luísa disse...

Era um saco, mas a gente aprendeu bem direitinho, né? ;)

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