quinta-feira, 5 de maio de 2011

"Aonde" o que, rapaz!?

Acabei de ver, no Facebook, uma amiga comentando ter visto um assalto em alguma rua do Recife, apesar de toda chuva, todo alagamento, caos e transtorno sob os quais se encontra a cidade. Imediatamente, uma amiga dela perguntou: (Preservei, claro, a identidade de todas as pessoas envolvidas, exceto a minha.)


Esse é um equívoco bastante comum entre as pessoas e, sempre que leio/ouço, lembro imediatamente a propaganda do Shopping Tacaruna (Olinda, PE) para o dia das mães de 2009 (creio que seja 2009, porque é a última propaganda de que tenho lembrança e, em 2010, eu já estava em Belo Horizonte):



Pois bem, gente. Vindo de mortais, essa troca entre onde/aonde não me choca tanto, mas em propagandas que vão ao ar na Rede Globo...? :( Peço perdão aos que produziram o vídeo, que, para mim, é de péssima qualidade, independente do equívoco no uso de aonde. Peço perdão porque fico preocupada, de coração, com os profissionais que se têm formado por aí, nas mais diversas áreas. Acho que deu pra perceber que, para mim, um professor de português não precisa se policiar (e sofrer!) para estar dentro de todas as normas que determina a gramática tradicional. Mas existem coisas que, se não nos mantivermos atentos, viram bagunça e a indistinção nos usos poderá, por que não?, dificultar num futuro bem distante o aprendizado da língua portuguesa por falantes não nativos. (Um drama, mas eu acho que tudo tem limite mesmo.)

Mas vamos lá.

Onde sempre indica local estático. Utilizamos onde, pois, quando queremos dizer ou saber em que lugar algo ou alguém se encontra:
  • Onde você viu essas frases? No mural de uma amiga no Facebook.
  • Não sei onde pus os óculos.
    • Você os colocou em cima da estante.
Notem que "no mural de uma amiga no Facebook" e "em cima da estante" não indicam qualquer ideia de movimento.

No entanto, muitas pessoas utilizam, em vez de onde, seu irmão aonde, que também existe, mas que indica certo movimento, pois significa para qual direção, para qual lugar.

Para assimilar bem ele, é importante que as pessoas notem a primeira diferença básica: aonde = a (preposição) + onde (advérbio). Se é preposição A + advérbio e sabemos que a preposição "a", quando se refere a lugares, remete-nos à ideia de movimento, deveríamos raciocinar que ela equivale a "para" e, logo, aonde = para onde.

Duvido muito que as pessoas cometessem esse equívoco se parassem para pensar 1s nisso que estou propondo. Parece que o povo acha mais bonito enxertar as palavras com mais letras/fonemas, assim como acha que falar bonito é falar "difícil".

Então, gente, se a pessoa lá de cima do mural do Facebook tivesse feito esse raciocínio, tenho sérias dúvidas se ela teria dito "para onde?", ao querer saber onde ocorrera o assalto.

Espero que, daqui pra frente, vocês fiquem atentos a essa diferença, porque pode não significar muita coisa, afinal, nas conversas informais, muitos equívocos são perdoados, mas dificilmente isso fica restrito aos contatos pessoais. Aí, amiguinhos, chegar ao trabalho perguntando "aonde o chefe pôs os documentos" pode soar algo parecido com "vamos por ali, que tem menas gente", quando você arruma um(a) paquera num show e ele(a) te "arrasta" a um canto, querendo fugir da multidão.

1 comentários:

Cecília Freitas disse...

Vivia corrigindo Flávio.. mas aí ele aprendeu ;P

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