terça-feira, 10 de maio de 2011

"Menas" regras, então? :)

Uma professora minha me enviou uma mensagem pelo Facebook comentando a última postagem daqui do blog. Pedi a ela que postasse aqui, como um comentário, porque seria enriquecedor. Mas, como se tratava de uma crítica à postagem, ela preferiu escrever de forma privada, para que pudéssemos trocar ideias.

Admiramo-nos reciprocamente, isso é fato, e nunca, em situação alguma, acharia que o comentário dela pudesse-me diminuir. :) Ao contrário, se ela me dissesse "você não sabe do que está falando", não encararia como algo destrutivo, mas que me seria dito para eu melhorar. :)

A mensagem dela continha, em resumo, o seguinte: a gramática normativa precisará aceitar a indistinção entre "onde" e "aonde". O que, na postagem, chamou a atenção dela foi o período em que eu me dizia preocupada com esses usos indistintos, uma vez que eles não causam problemas para a compreensão dos textos. Apesar de elogiar a iniciativa de explicar a diferença, por haver quem prefira obedecer à norma padrão, ela enxergou um preconceito não muito discreto.

A preocupação da minha professora foi eu ter usado dois exemplos de interlocuções informais, em que somos relativamente livres para nos expressarmos. Pareceu preconceituoso e, por me conhecer bem, ela me deu esse "puxão de orelhas", porque pode não soar bem diante de muita gente, especialmente da comunidade acadêmica.

Isso é verdade e, como diz o ditado, toda brincadeira tem um fundo de verdade. Tenho, sim, alguns preconceitos. :( Não é bonito afirmar isso, especialmente de uma maneira tão pública, porque a língua é viva e evolui de acordo com o uso. Mas uma coisa queria deixar clara: não critico os que, ao contrário da maioria de nós, não tiveram acesso a  uma educação de qualidade, na escola ou mesmo dentro de casa. Para essas pessoas, guardo todo o meu respeito, de coração. Só que me irrita (e muito!) ver pessoas como eu, que passaram por excelentes escolas e faculdades, insistirem em usar o que bem entendem, porque tanto faz.

A propaganda do Shopping Tacaruna, apesar de apresentar uma interlocução informal, não deixa de ser peça veiculada para grande parte da população. Dizer "Tás aonde?" não agride, assim como dizer "Tás onde?" também não. Em inglês, ninguém morre por aprender (decorar) phrasal verbs e não fica resmungando porque to look to look after to look up to look ahead ≠ to look back, etc. Mas, porém, contudo, entretanto e todavia, como "português é muito difícil", a galera da geral tende sempre a simplificar da maneira que lhe for mais conveniente, mesmo que isso signifique transgredir o estabelecido como norma padrão.

Nessa troca de mensagens, comentei que, se essas regências, grafias e concordâncias ainda não aceitas pela norma padrão não merecem restrição quanto ao seu uso, muito em breve expressões como "menas gente" e "meia cansada" também terão de ser aceitas. Quando me dizem "vamos por ali, porque tem menas gente" ou "Fulaninha não vem hoje porque está meia cansada", entendo perfeitamente e mentirá quem disser haver falha na comunicação, né? Todo mundo entende isso e por que seria mais ou menos grave que "Tás aonde?" e "Vou no cinema assistir um filme de Tarantino"? :) Se pode uma hoje, pode tudo, né? Por que pesos diferentes?


Penso que as pessoas deveriam ser menos ariscas com as regras. Desobedecer a algumas faz mal a ninguém, porque a naturalidade é a alma do negócio, mas desobedecer mesmo quando o padrão é pra lá de natural? O_o Disso, sim, queixar-me-ei.


Observação:

Após reler esta postagem, percebi muito sarcasmo em quase todos os parágrafos, mas não quero, pelamordedeus, tentar provar que existe alguém certo nessa história toda, ok!? :) Eu só gosto de polêmica. :) E, Gláucia, eu também gosto muito de você! :*

2 comentários:

minicozinha disse...

[tudo de novo]

Noca, concordo 100% contigo. Quer dizer, quase isso.

Por algum motivo que desconheço, aqui no Brasil, a regra é não se preocupar com a suposta rigidez gramatical da língua portuguesa e mimimi. Já vi absurdos até em trabalhos acadêmicos (de uma doutoranda, diga-se de passagem). E sabe o que é pior? O professor não corrige, muitas vezes porque ele não percebe.

Adorei a comparação com o inglês. Realmente, ninguém morre para aprender os phrasal verbs, mas todo mundo reclama do português (para mim, isso é desculpa de preguiçoso - aproveito e já coloco mais lenha na fogueira).

Falo isso, mas estou longe de ser uma sabichona da língua portuguesa. Pelo contrário, cometo meus deslizes aqui e ali com uma certa frequência. Também assumo que não me importo com algumas coisas, como hífen. Não decoro e sei que nunca vou, mas sempre recorro ao pai dos burros da internet, santo google, quando preciso escrever algo e fico em dúvida.

Sobre a linguagem informal, também concordo que, se a construção correta não agride, por que insistir no erro?

Só discordo de que todos os erros tem pesos iguais. Contudo, admito que é difícil definir a aceitação de cada um. É que não me imagino falando "me dá issoaqui" da forma correta.

Para não transformar esse comentário em um post, fico por aqui. Antes de terminar, vou só explicar algo que comentei logo no começo: falei que aqui no Brasil é regra não se preocupar com a gramática, porque, em outros países, onde a língua também é viva e coisa e tal, há uma rigidez maior em relação ao uso da língua de forma correta. Claro que, em conversas informais, essas regras são suavizadas. Mas, ainda assim, o erro não é visto como algo bom, como percebo que acontece aqui vez ou outra.

Fim.

beijo

[espero que o blogger não mate o comentário de novo]

Ana Luísa disse...

Pois é, Lisa! :)
Colocação pronominal é algo que eu descumpro quase sempre, porque ênclise me causa hiato em pensamento; mesóclises eu costumo empregar de vez em quando, mas isso quando não me resta muita saída (apesar de eu achá-las simples e, às vezes, bem bonitinhas).

*Entre os parênteses, empreguei uma ênclise, ó! :) Mas isso porque, pra mim, "de eu achá-las" parecia mesmo mais eufônico. :))

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