Por esses dias, escrevi duas postagens: uma sobre a diferença entre viagem x viajem e outra sobre a construção do modo imperativo dos verbos em português. Mas, ao longo dessas duas postagens, senti falta de um raciocínio que trago hoje para vocês. :) É um assunto que, para mim, sempre rende uma das aulas mais legais, quando alguns dos meus pirralhos ficam pra lá e pra cá comigo na sala, um de cada vez. :)
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Durante muitos anos, o ensino de língua portuguesa foi extremamente tradicional. As nomenclaturas eram impostas e pouco importava o aluno compreendê-las. Hoje, porém, o ensino de língua materna tem evoluído e, apesar de eu ser bem tradicionalista em alguns aspectos, sou bastante reflexiva nas aulas que convencionamos chamar de "expositivas". Nunca concordei com essa denominação e preferi chamar de "exposições dialogadas", uma vez que tudo meu, em sala, é na base de muita, mas muita conversa. :)
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Durante muitos anos, o ensino de língua portuguesa foi extremamente tradicional. As nomenclaturas eram impostas e pouco importava o aluno compreendê-las. Hoje, porém, o ensino de língua materna tem evoluído e, apesar de eu ser bem tradicionalista em alguns aspectos, sou bastante reflexiva nas aulas que convencionamos chamar de "expositivas". Nunca concordei com essa denominação e preferi chamar de "exposições dialogadas", uma vez que tudo meu, em sala, é na base de muita, mas muita conversa. :)
Pois bem! :)
Novas gramáticas do português costumam trazer uma noção relativamente nova: pessoas do discurso.
Quando você chega a uma turma de 5ª série (hoje 6º ano), a maioria dos alunos entende que discurso é "aquilo que os políticos fazem em época de eleição" ou aqueles proferimentos que as pessoas fazem, às vezes, depois de um brinde e coisa e tal.
A primeira ideia é, então, fazer com que os pirralhos entendam que discurso também é sinônimo de conversa. (Se algum linguista estiver lendo esta postagem, por favor, não se apegue às noções de discurso da Academia, ok? A ideia deste blog é falar especialmente para os leigos.) Então, se discurso e conversa podem ser a mesma coisa, as pessoas do discurso são as pessoas que participam da conversa. :)
Depois de algum teatrinho, explico que sempre serão três as pessoas envolvidas em uma conversa:
- A primeira: a pessoa que fala
- A segunda: a pessoa com quem se fala
- A terceira: a pessoa de quem se fala
Deixo claro, nesse momento, que não se trata, necessariamente, de pessoas como nós, seres humanos, mas dos seres envolvidos naquela situação comunicativa. Como assim? Eu, Ana Luísa, posso acordar de bom humor um dia (coisa rara!), olhar para o céu, ver que ele está lindo e comentar com o papagaio da vizinha que o céu está lindo, não posso?
Nesse caso, no momento em que Ana Luísa fala, ela é a primeira pessoa do discurso, pois é ela quem fala. Como se dirige ao papagaio da vizinha, esse papagio será o seu interlocutor e, por isso, assumirá o papel de 'ouvinte', ou seja, ele será a segunda pessoa do discurso. O mais legal é que Ana Luísa e o papagaio estão conversando sobre o céu que está lindo, né? Então o céu será a terceira pessoa do discurso, pois é o assunto da conversa. :)
Se o papagaio responder, os papéis se invertem: Ana Luísa, como passará a ouvir o papagaio, será o seu interlocutor e, agora, será a 2ª pessoa do discurso, enquanto o papagaio passará a 1ª pessoa. :)
Se o papagaio responder, os papéis se invertem: Ana Luísa, como passará a ouvir o papagaio, será o seu interlocutor e, agora, será a 2ª pessoa do discurso, enquanto o papagaio passará a 1ª pessoa. :)
Tudo bem até agora?
Se sim, prossigamos.
As gramáticas, em sua maioria, costumam trazer o tópico PRONOMES e, dentro deles, os PRONOMES PESSOAIS, mas não se preocupam em desenvolver o raciocínio sobre por que eles são chamados de pessoais. Essa ausência refletirá, pra mim, na compreensão do modo imperativo dos verbos, que precisa de uma compreensão legal especialmente desses pronomes, que decoramos ainda na 4ª série (hoje 5º ano).
Os pronomes, gente, são chamados de pessoais porque se referem às pessoas do discurso. Sempre que alguém fala (1ª pessoa), se refere a si mesmo como "eu" (1ª pessoa do singular) ou como "nós" (1ª pessoa do plural), pois "nós" é um "eu" + pelo menos 1 alguém "não-eu", que poderá ser tu, ele, ela, você, a menina, o cachorro, o gato, vocês, os meninos, etc.
Um teatrinho legal a ser feito é jogar com aquela ideia do EU e do TU, fazendo perguntas do tipo: "Quem é o mais bonito da sala?", aí todo mundo responde "EEEEEEEEEEEU". Aí você diz: "Eu sou o mais bonito?", e os meninos respondem "Não! EU sou o mais bonito." E aí fica clara a noção de que "eu" será sempre a pessoa que fala. Isso ajuda a compreender que, quando muda o turno conversacional, muda também a referência de quem é a primeira e a segunda pessoa do discurso.
Pra descontrair, o namorado lembrou esta cena do filme A hora do rush:
Esse raciocínio pode não ter sido útil para a maioria de vocês, mas vai-me poupar de precisar explicá-lo novamente nas próximas duas postagens. :)
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