Levanta a mão quem aí já recebeu um pedido de adição que vinha com mensagens tipo 'oi gata mim add ai flw?!" o/
O melhor é que elas sempre vinham de cidadãos cuja foto era fazendo um hang loose ou cruzando os braços, fazendo cara de mal encarado e, se possível, sempre com aqueles óculos escuros HB. (Esse estereótipo soa um pouco preconceituoso, mas é um padrão mesmo.) O e-mail da pessoa, claro, era sempre algo do tipo "maninhow_tjs@hotmail.com" ou "manowbroder_sk8@hotmail.com".
Esses míni-recados são um prato cheio para qualquer aula de português, ignorarei a primeira regra básica da boa escrita, que é o
uso de letra maiúscula no início das frases, porque costumo desrespeitá-la bastante nas redes sociais (abafa!).
Comecemos, então, por uma regrinha de pontuação fundamental: "gata" é o
vocativo, ou seja, a palavra que o ManowBroder usou para se dirigir a mim. Quando, nas nossas frases, empregamos um
vocativo, ele
deve vir entre vírgulas. ManowBroder deveria ter dito, então, "Oi, gata". Depois do "gata", ele poderia ter inserido outra vírgula, ou colocado um ponto, ou uma exclamação (!), mas era mesmo necessário que, após a palavra, existisse alguma pontuação.
*Não estou certa, mas
talvez as
interjeições devam-se ligar aos vocativos sem a vírgula, porque vejo, com relativa frequência, pessoas que eu respeito muito em termos de escrita escrevendo dessa forma. Mas nunca li em canto algum e, por isso, vou deixar a regra do vocativo prevalecer, ok?
Na sequência, um erro clássico e crasso das redes: "mim" no lugar de "me". Tem até os que inovam e dizem "min", mas esses são uma minoria egoísta e exclusivista. E qual é o problema aí? O_o É que
mim é o que chamamos de
pronome oblíquo tônico. Quando pequenos, decoramos que existem os pronomes pessoais, né? Depois a professora ensina que eles podem ser do caso reto ou do caso oblíquo. Aí a pirralhada toda recita, em uníssono: "eu, tu, ele/ela, nós, vós, eles/elas"; "
me,
mim, comigo, te,
ti, contigo, o, a, lhe, se,
si, consigo, nos,
conosco, vos,
convosco, os, as, lhes, se, si, consigo" - uns economizam os duplicados, o que é bastante compreensível. Mas poucas professoras ensinam a diferença entre os oblíquos, subdivididos em
átonos e
tônicos. :( Já falei aqui no
blog um pouco sobre tonicidade,
quando falei dos porquês. O lance é bem simples: os tônicos são aqueles que, na pronúncia, são tônicos! :) Redundante assim! É só lembrar da sílaba tônica. ;) E o que acontece? Os pronomes oblíquos tônicos são sempre
regidos por preposição, ou seja, é necessário que haja uma preposição antes deles. Por isso, dizemos "este presente é
para mim", "a menina trouxe a água
para si", "gosto muito
de ti", etc. Talvez alguém pergunte "e esses
comigo, contigo, consigo...?". Lááááááááá no latim, a gente dizia "cum te", "cum me", etc. Ficava bem feio e, foneticamente falando, era mais difícil de articular. As evoluções aconteceram e acabamos alterando a ordem preposição + pronome, ficando, pois, "tecum", "mecum". Em português, tenho a impressão de que a estrutura era "migo", "tigo" e "sigo" mesmo, daí, como esses pronomes eram sempre regidos pela preposição "com", o uso acabou por incorporar a preposição às próprias palavras, como no latim. Dessa forma, conseguimos "comigo", "contigo", etc. Então, gente, a preposição já está incluída aí nesses pronomes e, por isso, não há necessidade de ooooutra preposição antes deles. ;)
Até agora, ManowBroder deveria ter escrito: "Oi, gata,
me..",
blz?
O verbo
to add é da língua inglesa e significa
adicionar. Como a maioria das redes sociais é criada em inglês, muitas palavras inglesas acabam sendo incorporadas ao nosso linguajar e, muitas vezes por preguiça, acabamos utilizando-as a torto e a direito. Vamos perdoar essa, tá?
Depois tem aquele "aí", que os ManowBroders sempre escrevem sem acento. :( Aí, meu povo, fica só um
ai, desses que a gente diz quando alguém dá um beliscão na gente, sabe!? Em português, tanto a vogal
i quanto a vogal
u serão acentuadas graficacmente
se forem a segunda vogal tônica de um hiato,
se estiverem sozinhas ou seguidas de S e não seguidas por NH:
Lu-í-sa / ju-í-za / pa-ís / Lu-ís / a-ça-í / ba-ú / Cam-bo-ri-ú, etc. (Quando, depois do "i" ou do "u", houver um "nh", eles não serão acentuados, porque a nasalidade do "n" é transferida para as vogais anteriores e, assim, elas acabam ganhando a sua tonicidade:
ra-i-nha, ba-i-nha).
- Um detalhe para o qual quero chamar atenção é que, após o novo Acordo Ortográfico, não iremos mais acentuar graficamente nem o "i", nem o "u" tônicos, nas palavras paroxítonas, quando eles vierem depois de um ditongo decrescente:
baiúca - baiuca, bocaiúva - bocaiuva, feiúra - feiura.
Por fim, meu aspirante a amigo no Orkut deveria ter posto uma vírgula depois do "add", porque esse "flw" (falou) é uma expressão utilizada para checar o canal, isto é, se o interlocutor captou a mensagem. Lááááá naquelas aulas de figuras e funções da linguagem, ensinam à gente que isso é a função fática. É o que eu faço muito aqui, usando "né?", "ok?", "saca?", etc. ;)
É isso, galera! :) E essa postagem me deu ânimo para falar de um tal "teste do msn" que eu costumo(mava) fazer, mas isso são cenas de um próximo capítulo. ;)
Observações da postagem:
1 - Queridos amigos do Direito, vocês vivem com aquele livrinho (inho?)
Vade mecum embaixo do braço, né? Já se perguntaram o que significa "vade mecum"? É "vai comigo", em latim. Por isso que vocês vivem com ele para cima e para baixo, ó! ;)
2 - TJS e SK8, lá no começo da postagem, significam
Torcida Jovem do Sport e
Skate, para quem não sabe.