sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Como é que se fala mesmo?

O Brasil é um país de dimensões continentais. Isso todo mundo já sabe. Muitos já sabem, também, que a língua portuguesa falada no nosso país é bastante diferente da falada em Portugal e, também por isso, o último Acordo Ortográfico veio para tentar reduzir as divergências.

Alguns defendem que o nosso português deveria se chamar "brasileiro"; outros dizem que há uma única língua portuguesa falada no Brasil, porém com quase 200 milhões de variantes; outros dizem que há quase 200 milhões de línguas portuguesas faladas no Brasil.

Para o tema de hoje, pouco importa se a língua é uma ou se são várias. O que vale é que existem, sim, variações e variedades linguísticas que, por muitas vezes, costumam confundir algumas pessoas.

Ontem e hoje, duas amigas me questionaram sobre a pronúncia correta de algumas palavras. Para uma, a resposta foi um "tanto faz"; para a outra, um "mais atenção à ortoépia (ou ortoepia)".

Antes de seguir, adianto: ortoépia ou ortoepia é o estudo tradicional e normativo que determina os caracteres fônicos, considerados cultos e relevantes, e a boa pronúncia (Houaiss).

Assim sendo, vamos às dúvidas! :)

Dúvida 1


Por que falam sempre "Rorãima" em vez de "Roráima" na TV, hein? Onde é que esse som está anasalado, por favor? ¬¬ (Joana Braga)

A dúvida de Joana não é só dela. Várias vezes ouço pessoas se queixarem da pronúncia de algumas palavras. No caso de "Roraima", a questão é de variação fonética e já expliquei essa assimilação do traço nasal da consoante subsequente nesta postagem. Assim como "Rorãima" (ou "Rorâima"), há quem fale "Jãime" ou "Jâime". Pode parecer estranho para muita gente, mas é mais ou menos o que acontece com a palavra "muito". Aqui, tanto o U quanto o I sofrem o processo de assimilação do traço nasal da consoante. Por curiosidade, a palavra muito é a única palavra da língua portuguesa em que a vogal (e a semivogal também) assimila a nasalidade de uma consoante posicionada anteriormente a ela. :)

Por sinal, as pessoas estranham "Rorãima", mas ninguém anda falando "andáime" por aí, né?! ;)

Dúvida 2

Estou enfurecida. Subsídio se fala com S, né não? O povo tem uma mania de falar subZídio. Mandei falarem subZolo também. Tô certa ou errada? (Samara Almeida)

Notem que essa minha segunda amiga é um pouco menos tolerante! :) Mas é isso mesmo: subsídio, subsidiar, subsidiado, subsistência, subsidência, etc., pronunciam-se com o som de /s/, ao contrário do que muitos pensam. Há quem pronuncie [subzídio], mas essa pronúncia está equivocada. Se, futuramente, essas palavras ganharão o direito das duas possibilidades, não tenho como prever. Mas, por ora, aquele dito popular de que "a voz do povo é a voz de Deus" não funciona 100% para as questões da gramática normativa, ok? :)

Aproveito a deixa e alerto:
Na palavra gratuito, não há hiato! Em gratuito, temos um ditongo e, por isso, nada de vocês darem ouvidos aos repórteres e pronunciarem gratuíto. Se a palavra fosse gratuíto, o "i" precisaria receber um acento gráfico para indicar a sílaba tônica, visto que o "i" deixaria de ser a semivogal e ganharia o status de vogal, dando origem a uma nova sílaba. ;)

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2 comentários:

Karine Correia dos Santos de Oliveira disse...

Adorei este seu trabalho!

Passarei por aqui mais vezes.

Abraços, Karine Oliveira.

Ana Luísa disse...

Obrigada, Karine!! :)

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