Essa é uma dúvida que assola boa parte da população brasileira que sabe (?) escrever. Tanto quanto "mau com U" e "mal com L", os verbos no infinitivo pessoal causam estranhamento na hora em que muitas pessoas resolvem colocá-los por escrito.
Para explicar a diferença, preciso comentar um episódio que presenciei. Pasmem, ele é real!
Certa vez, cruzei com um texto em que estava escrito, em um diálogo: "Mas quem sou eu para estar falando isso?" Curiosamente, esse texto já havia passado pela correção de um professor de português. Nós, professores de português, somos mortais e não somos obrigados a acertar 100% dos casos. Isso é bem tranquilo, na maioria dos casos. Mas há situações em que não dá pra lembrar dessa nossa mortalidade e esse episódio foi um desses casos.
Pois bem. O texto havia passado pela correção de um professor, que circulou o verbo estar e sugeriu a correção (correção? Oi?) está. Ingenuamente, caí na besteira de comentar que a correção era equivocada. Por quê? O professor, com uns 20 anos de sala de aula, se encheu de direitos e veio tentar-me provar que o engano era meu. Não satisfeito com o fato de eu não engolir as regras que ele estava criando para me explicar por que EU estava enganada, muniu-se de uma gramática e conseguiu cair ainda mais no meu conceito.
Então agora eu explico a questão:
Na construção "Quem sou eu para está/estar falando isso?", encontramos uma locução verbal. Locução, para quem não lembra, é quando duas ou mais palavras se unem para transmitir a ideia de uma só. Quando dois verbos se unem nesse matrimônio, o segundo verbo transmite a ideia principal e o primeiro vai indicar o tempo, modo e pessoa em que o verbo principal (o segundo!) estaria se estivesse sozinho. Aí, no caso, o verbo principal deve estar em uma das formas a que chamamos de formas nominais. Complicou? Simplifiquemos:
Se a estrutura fosse "está falando", teríamos que simplificá-la para o verbo falar, de forma que ele ficasse no mesmo tempo (presente), modo (indicativo) e pessoa (3ª do singular) do verbo "está". Logo, teríamos: FALA. Afinal, eu falo, tu falas, ele fala, né? Aí, teríamos: "Quem sou eu para fala isso?" Mas... quem 'fala' é 'ele'.
Aí vem o raciocínio padrão da maioria dos pensantes: se a estrutura equivale a "estar falando", é porque eu diria "quem sou eu para falar isso?", né mesmo?
Essa dúvida normalmente existe com os verbos estar, dar, ler e ver, que eu lembre neste momento. Tem gente que sai jogando acento pro alto das vogais a torto e a direito, como em períodos assim:
- Não sei se vai dá pra passar na sua casa hoje.
- Vou vê se rola de ir pra festa mais tarde.
- À noite, vou está em casa.
- Fulano é fogo! Sabe nem lê!
Se substituíssemos os verbos por outros com os quais não nos estranhamos, não teríamos problemas. Vejamos que fácil! :)
- Não sei se vai cair...
- Vou olhar se rola...
- À noite, vou dormir em casa.
- Sabe nem escrever!
Escolhi esses verbos porque normalmente as pessoas não costumam sair acrescentando acentos em "olhá" ou "escrevê", por exemplo. Mas aí, amigos, na dúvida, se o lance é nas redes sociais, joga um "h" no final, que alivia. Bonito não vai ficah, mas pelo menos vai dah pra dah uma tapeah.
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Se ainda ficou confuso, aproveito pra socializar uma troca de e-mails que tive com a ABL:
*No e-mail que enviei com "a dúvida", esqueci de observar que, no caso do texto lá do aluno, havia a preposição para e, quando há preposição, não há chance de o verbo estar grafado de outra forma senão no infinitivo: Para fazer as coisas certas / É hora de comer / Obrigada por deixar os documentos em minha casa.
2 comentários:
Tenho certeza que o professor notou que estava errado. Mas, com toda a experiência que ele diz ter, eu DUVIDO que ele iria "dá" o braço a torcer.
Curti!
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Ana.